Dia de Reis: hora de voltar à realidade < Bem vindo 2020 real oficial >



Hoje é o sexto dia do ano, dia de Reis, dia de desmontar a árvore de Natal que eu não montei. A partir de amanhã começa a valer o novo calendário, a partir de amanhã já somos obrigados a saber que dia é, a relembrar as senhas do email do job e também de relembrar quem somos e o que viemos fazer aqui (afinal esses últimos dias têm sido como uma aula de dança livre, né).
Tenho a sensação de que entre o Natal e o dia de Reis as pessoas recebem uma benção invisível para relaxarem e serem naturais. Nesse período muitos de nós podemos focar naquilo que realmente importa, em comer só o que gostamos, em estar com quem queremos estar. Passear, dormir, ler, ver o Netflix inteiro e finalmente descobrir que o tempo é APENAS uma convenção social. Tá tudo na sua cabeça, amigo. E você decide se isso é good news or not.
Acontece que agora que a essa sociedade anônima que fala comigo através de convenções sociais que eu não assinei me diz que já chegou a hora. It is time and time is money. Acorda, lava a cara, despertador mode on de novo. Volta às aulas. Volta ao trabalho. Volta ao seu modus operandi.
Peraí.
E se eu não quiser ser quem eu fui até o calendário virar? E se eu não quiser continuar a fazer o que eu vinha fazendo até a S.A. me falar que eu podia ser livremente eu? Fica difícil gostar de comer pão velho depois de provar algo fresquinho e crocante.
E, para fechar essa curta temporada de viver de prazeres e de espontaneidade, ontem fui ao cinema. Star Wars era o que queríamos ver. Levei dentro da minha eco bottle um resto de um delicioso vinho de Bordeaux que uma querida amiga ofereceu no Natal, para tomar no cinema, por que não? A pipoca super salgada, uns chocolates e um poquito de vino. Ninguém pode me dizer nada, ainda não sei que dia é hoje, nem lembro de quem eu sou, a S.A. ainda tá de férias coletivas.




Entre umas boas batalhas e naves voando, os Jedi estavam enfrentando o seu pior inimigo no último filme da saga, supostamente. Em um momento, Rey, uma grande promessa, a provável salvadora da galáxia, uma Jedi “bastarda”, confronta seu passado e descobre coisas que não lhe eram agradáveis, verdades difíceis que a colocavam entre dois mundos, entre o bem o mal. Em um momento de esgotamento um dos seus mestres lhe pergunta:
_ “Do que é que você tem medo?
_ De mim mesma.”
Pois é, quem nunca. O filme foi repleto de momentos assim, reflexões voltadas para dentro, para o passado, para aquilo que falta. Alguns acharam um pouco cheesy, já outros acharam profundo. Só quem busca a força dentro de si pode entender.
Rey aprendeu a duras penas a controlar a mente e a sua energia, e, finalmente, manifestou tudo aquilo que já tinha aprendido. Encontrou sua paz e seu destino. Consequentemente salvou toda a galáxia dos poderes do mal. Tão cliché, mas tão real. O bem e o mal RESIDEM com visto permanente dentro de você. Não se culpe pelos seus tropeços, ninguém é perfeito, o mal também reside em nós, não há nada que podemos fazer, é um fato. Aceita. Se conheça. Escolhe qual lado você quer alimentar.
Digo isso para deixar uma coisa bem clara — pra mim principalmente: o calendário não existe, o tempo é meu, eu sou dona dele. Se não começamos o ano com uma vida plenamente renovada, tá tudo bem. Se não começamos o ano com um projeto fit, tá ok também. Se não começamos o ano com toda a energia para seguir os velhos projetos ou os novos, tá ok! Se não começamos o ano cheios de esperança, aceita! O mundo está bem complicado para andar por aí com positividade tóxica.
Apenas não permita nunca que essa S.A. te diga o que sentir, o que fazer e quando agir. Eu to tentando começar o ano mantendo o mood da dança livre. Vou continuar comendo o que gosto, fazendos passeios “de fim de ano” o ano inteiro, e vou me perder nos dias da semana sim! — nada melhor do que ser meio lunático! Como dizia Elis Regina, “é você que é mal passado e que não vê que o novo sempre vem.” E vem. Vai vir. No tempo certo, na hora certa. A fruta amadurece cumprindo o seu calendário único. Por que será que nós, seres humanos, complexos e multicuriosos, seríamos capazes de seguir o mesmo ritmo de criação e amadurecimento?! (Agora me pergunto, quem são os verdadeiros lunáticos aqui?! rsrs)
Sendo assim, segue a minha resolução de dia de Reis, ou só de vida mesmo: quero continuar vendo as pessoas que amo com o pretexto de “a vida é curta!” Quero continuar lavando muita louça e recebendo muita gente em casa. Quero continuar estreiando roupa nova e fazendo as unhas, com festinha ou sem festinha. Quero continuar desejando uma feliz vida para quem for legal comigo na rua. Quero continuar sendo livre para re-descobrir meus gostos. Quero continuar levando vinho pro cinema. Quero que os 360 dias que tenho de 2020 tenham sabor a águas de março, de fim de canseira.
Que a nossa versão de fim de ano dure o ano inteiro!


Andréia Simas
06 janeiro 2020

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