¿De dónde eres?

E a razão pela qual eu decidi criar um blog com esse título.

Essa pergunta cada vez me deixa mais confusa. Escuto esse questionamento várias vezes por semana, já que faz tempo que moro bem longe do meu lugar de nascimento. Sempre dou uma resposta automática para não parecer uma louca que não sabe da onde veio. Eu respondo rapidinho mas por dentro entro em dúvidas e mergulho num universo de perguntas e narrativas que eu mesma crio dentro da minha cabeça - típico meu.

Bom, por conta desse momento em que me deixei levar por essas dúvidas, decidi com o ímpeto dominado pelo meu ascendente em Áries nomear o meu primeiro blog oficial de ¿De dónde eres? E minhas razões são as seguintes:

1. É um espaço para dar vazão à minha paixão since 1900 e bolinha, E S C R E V E R!
2. O nome do blog define meu momento de aceitação das origens, do passado, de descobrimento do meu verdadeiro eu, por isso pensar de onde eu sou me ajuda a esclarecer tudo isso.
3. Essa pergunta é normalmente o ponta pé inicial de conversas entre pessoas de diferentes origens. Essa busca por auto conhecimento também me leva a viajar com propósito, o que significa que tenho um segundo tema que quero compartilhar aqui: VIAGENS COM PROPÓSITO!

Só para contextualizar: nesse início de ano de 2020 me comprometi com algo bem importante, fazer perguntas poderosas - a mim mesma e aos outros.

Então eu me pergunto, da onde eu venho, realmente? Qual é o lugar que eu posso chamar de meu e dizer “olha, eu sou de lá, esse lugar me pariu pro mundo." Responder essa simples pergunta de forma fugaz me deixa meio gaguejando. Então resolvi pensar, por quê?

Numa revisão rápida da minha história eu posso afirmar que não me sinto pertencente desse lugar de onde eu vim. Esse não pertencimento e não reconhecimento da minha verdadeira origem me faz crer que talvez as realidades que eu criei para mim distoam um tanto das minhas reais origens. Eu acabo não reconhecendo um lugar físico que sirva de marco zero pra minha história.

Depois de pensar um pouco mais, cheguei à um denominador comum: o único lugar ou espaço que reconheço quando penso nas minhas origens é uma folha em branco. É na frente de uma folha em branco que eu lembro de mim, quando eu ainda não era a mesma eu de hoje.

Eu, menina, em frente a uma folha em branco, sem linhas porque eu sempre escrevi reto e com letra bonita - caprichada, como diziam minhas profs do colégio. Nessa folha em branco que eu recebi lá atrás eu comecei a escrever minha própria narrativa, moldar a vida do meu jeito, baseada na forma em que eu via a minha vida e o meu arredor. E foi isso que me construiu e me salvou. Moldou minha identidade dando voz àquilo que vinha do fundo. Talvez nem tão fundo, talvez fosse mais do raso, porque naquela época faltava coragem pra chegar mais fundo.

Nessa folhas eu fui e deixei de ser, avancei e retrocedi, errei e acertei, apaguei e rasguei. Me arrependi algumas vezes. No final das contas eu me expandi. Eu realmente vim de uma folha em branco. É assim que me sinto, meio sem pai nem mãe (not too far from reality).

Tudo o que me trouxe até aqui foi escrito por mim, enquanto eu me inspirava em vários mestres e caminhava pouco a pouco em direção ao som do meu coração. Sinto que cada vez chego mais e mais perto.

Cada mestre que eu encontrei em cada lugar por onde passei é parte da minha origem, eles fizeram parte do meu caminhar. Eles são parte da onde eu venho, minha história me transportou até aqui e eu deixei um pedaço de mim em cada lugar e em cada troca humana. Me sinto um pouco como um organismo geneticamente modificado (espero que eu não faça mal à sua saúde). O que importa é que o que eu manifesto hoje não é o mesmo que eu manifestava há 10 anos atrás, eu me transformei visceralmente.

Ainda bem!

Eu quase nunca sou a mesma, minha identidade ainda é nova, está em definição. Meus valores primários é que não mudaram, pois eu diariamente me orgulho por estar tentando honrar a minha criança, satisfazer ela nos detalhes e nas decisões importantes. Eu queria rodear-me de amor, queria construir um lar itinerante, queria ver o dia a dia fluir ao som da minha música e de muitas risadas. Eu queria brincar na vida, todos os dias. Até que eu to conseguindo, amém!

Conseguir honrar minha criança é realmente uma façanha pra mim. Algo meio improvável, meio impossível, quando eu considero a nebulosidade das minhas origens e pela incoerência de afetos entre os que me esculpiram pro mundo.
A verdade é que ninguém esperava a minha capacidade de amar. Isso sempre choca as pessoas - de forma positiva.
Talvez seja por isso que eu prefira pensar sobre a minha origem assim, como essa folha em branco. Desse jeito eu não me escondo atrás de nenhum papel de vítima pra contar a minha história, afinal eu assinei meu nome no final da folha, e tá tudo bem. Eu me assumo. Eu me banco. Eu escrevo meus dias e a minha história com a autenticidade dos sentimentos que cultivei em mim. E disso não me arrependo. No meio de tanto desamor e caras feias eu grito, eu venho é do AMOR!

Sim, é de lá que eu vim e venho.

O ponto aqui é que quando alguém me pergunta, de donde eres, a resposta esperada "se me queda corta". Quero dizer que essa pergunta restringe a minha resposta, a resposta que no fundo eu sempre gostaria dar. Eu só queria dizer que sou um pouco de cada lugar, de cada pessoa, de cada sofrimento que me trouxe uma transformação. E hoje, nesse novo lugar, eu sou um pouco mais, sou um pouco melhor, então eu já posso dizer, sem medo, que yo también soy de acá!

Andréia Simas
02 02 2020



Comentários

  1. Eu sou uma das professoras que sempre elogiou, para além da letra linda, tua narrativa, muito coerente e interessante para uma criança de 9 anos... Segui te acompanhando (até em sessão de autógrafo, lembra?) pelos laços familiares (acho que muito mais pelo afeto) e vejo desabrochar uma mulher dona de si e de sua história! E dá um orgulho tão grande!!! Segue sendo tão tu e que tu sejas sempre muito feliz!!! 😘

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    1. Que lindo ler isso! Tu fizestes parte desse processo em um momento tão importante! Obrigada <3

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  2. Que bonito esse processo de descoberta, Andreia. Inspirador. Continue sempre escrevendo. O texto me lembrou uma música do Jorge Drexler: Movimiento. Beijo!

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    1. Obrigada, amigo! Vou continuar sim! Não conhecia a música, escutei e AMEI!! Tudo a ver! E o vídeo, lindo...
      https://www.youtube.com/watch?v=lIGRyRf7nH4

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